Tratamento da saúde mental vai além dos medicamentos

O fenômeno da medicalização da vida já é conhecido e registrado na literatura médica. É uma ideia de apenas um remédio para todos nossos problemas, incluindo as mentais, no caso delas bastante sedutora a ideia para curar depressão, ansiedade, etc. Mas estamos no mundo sobre diversos contextos da vida e não é razoável supor que não tenham influência sobre nossa saúde mental. Um exemplo seria o aumento de ansiedade em todos os países, o medo da morte, o medo financeiro das famílias, das atividades que não foram feitas por conta do isolamento social. Das agressões contra as mulheres, crianças, jovens, idosos e pessoas com deficiência que aumentaram consideravelmente nesse tempo. A solução dos problemas mentais não se esgota nos remédios: é preciso considerar também os determinantes sociais da saúde mental.  O texto lembra que o conceito de boa saúde cerebral, tal como definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), não é a mera ausência de doenças – uma definição pela negação.

Ela é, isso sim, um estado em que cada um pode “otimizar seu funcionamento cognitivo, emocional, psicológico e comportamental”. Isso significa considerar diferenças econômicas, culturais e sociais, ambientes físicos e naturais, saúde materno-infantil, educação, emprego, qualidade do trabalho e envelhecimento saudável. Esses contextos influenciam na nossa vida, no modo de pensar e a nossa saúde mental. Somos um todo e tudo que nos circunda nos influencia. O Brasil teria um longo caminho para percorrer para que pudesse adotar essa abordagem. O desafio é grande, violência domestica, número de desempregados e os milhares de alunos que foram afetados sem aulas presenciais, tanto na rede pública como na privada. Nada disso passou ou passará sem deixar um custo em termos de saúde mental para quem foi afetado – e também para o conjunto da sociedade.

A nova abordagem sugere que não é mais algo somente biológico, de remédios mas sim é preciso entender como afetamos e somos afetados por nosso meio. Como escreveu em 1914 o filósofo espanhol José Ortega y Gasset, “eu sou eu e minha circunstância, e se não salvo a ela, não me salvo a mim”. Deixar de fora no cuidado com a saúde mental do paciente o contexto em que ele se insere – incluindo as dificuldades sociais que o pressionam – significa, segundo esse novo modo de ver, permitir que o sofrimento dele continue.

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